Humanizar - Chega de Prédios Tediosos

Sabe quando você anda pela cidade e sente que algo está faltando? Que muitos prédios novos são... sei lá, meio sem alma? Caixas de vidro e concreto que poderiam estar em qualquer lugar do mundo? Se você já sentiu isso, preciso compartilhar as ideias de um livro que acabei de terminar: "Humanizar", do designer britânico Thomas Heatherwick.


Pira Olímpica de Londres 2012. AFP PHOTO / CARL COURT... - 

Não conhecia o trabalho do Heatherwick Studio, mas pesquisando descobri algumas das suas principais criações, como a pira olímpica de Londres 2012 e o incrível "Vessel" em Nova York. Neste livro, ele faz uma crítica poderosa e muito necessária à arquitetura moderna.

A tese central dele é bem direta: estamos vivendo uma epidemia global de edifícios tediosos. E o mais grave é que essa monotonia arquitetônica não é apenas feia, ela nos afeta profundamente, causando estresse e desconexão com os lugares onde vivemos e trabalhamos.

A raiz do problema

Dia destes estava numa praça aqui na Lapa, em SP e fiquei observando os prédios ao meu redor, e logo me deparei com um exemplo de construção tediosa x construção agradável. O prédio da esquina preservou a arquitetura da época, mantendo os ornamentos, o volume, os balautres no coroamento, mesmo tendo um restaurante no térreo e os apartamentos no andar superior, na fechada pelo menos, as características do original se mantiveram. Ao lado, provavelmente alguma casinha foi demolida para dar lugar a um edíficio reto, sem graça, que não desperta interesse em quem passa pela rua.

Heatherwick argumenta que, em algum momento do século XX, a arquitetura se apaixonou por uma ideia de simplicidade que, na prática, se tornou uma desculpa para construir de forma barata e sem imaginação. O foco mudou das pessoas que usariam os espaços para os próprios arquitetos e para a funcionalidade fria. O resultado? Fachadas lisas, falta de detalhes, ausência de texturas e uma repetição que cansa a vista e a alma.

Ele nos convida a pensar: quando foi a última vez que sentimos um carinho genuíno por um prédio de escritórios moderno? Ou por um shopping genérico? Pois é. Amamos as ruas antigas das cidades históricas justamente porque elas têm complexidade, detalhes e uma escala que nos acolhe.

Na mesma praça tem uma igrejinha linda, onde meus pais se casaram. Atrás dela foi construído um prédio de apartamentos contemporâneo, dá uma olhada na diferença. O prédio até tem um volume, faz umas "brincadeiras" na fachada para não ser monótono, mas com certeza atrapalhou a vista belíssima que tínhamos da praça com a igreja. Nós arquitetos e urbanistas somos responsáveis pelo entorno também, para se construir é preciso olhar ao redor. É fundamental, é matéria dada na faculdade. Só que na prática não funciona assim, infelizmente.


Então, qual é a solução?

É aqui que o livro fica ainda mais interessante. Heatherwick não fica só na crítica. Ele propõe um caminho, uma nova forma de pensar o design e a construção. A ideia de "humanizar" é exatamente isso: trazer de volta as qualidades que nos fazem conectar emocionalmente com os edifícios.

Um bom exemplo de arquitetura preservada e convidativa, essa casinha na Av. Pompéia, também na zona oeste de SP.  Perceba os detalhes, a textura na parte superior, as pedras embaixo, os balaustres; passaria horas observando. A região está sendo invadida por grandes edíficios, é preciso se atentar a isso. Caso contrário não teremos mais nada da nossa história para deixarmos de legado as novas gerações.

Ele defende que os prédios precisam ter:

Complexidade visual: Nossos cérebros adoram detalhes! Formas interessantes, texturas, ornamentos... não como um luxo, mas como uma necessidade humana.

Caráter e identidade: Um edifício deve pertencer ao seu lugar, contar uma história e ter uma personalidade única. Chega de "clones" arquitetônicos.

Foco na experiência humana: Como nos sentimos ao passar por aquela porta? Como a luz entra? Como o prédio envelhecerá? As perguntas precisam ser sobre as pessoas, não apenas sobre a estrutura.

Ele usa exemplos fantásticos (tanto bons quanto ruins) para ilustrar seu ponto de vista, incluindo alguns de seus próprios projetos, explicando os desafios e as soluções encontradas. Não se trata de voltar ao passado e construir castelos, mas de usar a tecnologia e a criatividade de hoje para criar lugares que as futuras gerações queiram preservar, e não demolir.

Para quem é este livro?

Sinceramente? Para todos. Não é um livro técnico para arquitetos. É um manifesto para qualquer pessoa que se importa com a cidade onde vive. É um chamado para exigirmos mais dos nossos espaços públicos e privados.

Terminei a leitura com uma sensação de urgência e otimismo. A gente não precisa aceitar o "chato" como padrão. Podemos e devemos construir um mundo mais interessante, mais bonito e, acima de tudo, mais humano.

E vocês? O que acham dos prédios das nossas cidades? 

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